sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

VEREADOR ACUSA PREFEITO DE CANSANÇÃO POR CORRUPÇÃO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA


Esquema com familiares envolve inclusão de laranjas

Por: Adalton dos Anjos - Jornal da Metrópole
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Empresas do prefeito de Cansanção vencem licitações municipais
Foto: Divulgação 
Um grande empresário prevê a possibilidade de vencer as eleições para a prefeitura de uma cidade do interior da Bahia e decide transferir suas empresas para o sobrinho, o cunhado, a esposa e até um funcionário. Os novos donos dos negócios, no entanto, assinam procurações dando plenos poderes ao antigo proprietário. O empresário é eleito prefeito e, 'coincidentemente', as empresas as quais ele assume como procurador são as vencedoras dos contratos licitatórios na cidade.

A história, digna de um roteiro cinematográfico, aconteceu mesmo na cidade de Cansanção, localizada a cerca de 340 km de Salvador. O empresário e atual prefeito desde as eleições suplementares de 2010, Ranulfo da Silva Gomes (PSD), é procurador das empresas do Grupo Gomes. O problema é que essas empresas venceram contratos licitatórios no município, que juntos somam R$ 10 milhões, segundo denúncias feitas pelo vereador Cirilo Araújo Damasceno (PSDC).

O edil explica que todo o esquema montado pelo prefeito viola o regulamento previsto para os processos licitatórios. Por conta disso, ele ingressou com ações nos Ministérios Públicos Estadual e Federal contra as licitações fraudulentas e seus participantes. As denúncias incluem crimes de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, desvio de dinheiro público e peculato - quando um servidor público se apropria de um bem ou recurso público. 

Familiares seriam 'laranjas' do prefeito

As empresas de Ranulfo transferidas ao seu sobrinho Gabriel Santos de Oliveira, ao cunhado Edilmário Simões de Oliveira, à esposa e secretária de Saúde, Vilma Rosa de Oliveira Gomes, e ao funcionário Milton Neves de Oliveira são as vencedoras de diversos contratos licitatórios no município. As áreas em que elas atuam são transportes, combustíveis e óleos lubrificantes, além de suprimentos de informática. 

De acordo com Cirilo, um dos funcionários 'laranja' é motorista de uma das empresas do prefeito, a Magol Madeireira Gomes. Já o cunhado, "é uma pessoa simples", diz o vereador. O denunciante ainda relata em seu pedido de investigação criminal que "não se identifica qualquer frequência deste empresário ao 'seu vultuoso empreendimento".

Quanto ao sobrinho de Ranulfo, o vereador afirma que os endereços de Gabriel e do prefeito são os mesmos. "Quem concorre à licitação é ele [Ranulfo] mesmo. Só quem ganha é ele", afirma Cirilo, que reclama da demora do Ministério Público na cidade para investigar as denúncias.

Metro 1

Vereadores se mostram temerosos

A inércia dos órgãos fiscalizadores também serve de inspiração para cinco dos seis vereadores da oposição. "Não sei por que motivo eles se dizem da oposição, não denunciam. Dizem que têm medo dos guarda-costas do prefeito", diz  Cirilo.

O vereador Júnior (DEM), da bancada de oposição, diz saber das denúncias contra o prefeito, mas não se mostra tão enérgico quanto à necessidade de investigação. Ao fazer uma avaliação do governo de Ranulfo, ele dispara: "Tanto faz como tanto fez. Não tenho o que reclamar, para mim está bom". O edil ainda garantiu que as empresas citadas na denúncia de Cirilo são realmente do prefeito e que todos os integrantes da Câmara têm a informação das fraudes licitatórias.

O Jornal da Metrópole contatou o MPE, que informou ter solicitado à prefeitura o envio de documentos para seguir com as investigações. Já o MPF, também acionado por Cirilo, recebeu o pedido de investigação, mas com a reeleição de Ranulfo em outubro, ele passou a ter direito a foro privilegiado. Com isso, o processo está sendo acompanhado pela Procuradoria Regional da República.

Denúncia de compra de votos

As denúncias contra Ranulfo não param por aí. Após as eleições de 2012, um eleitor foi até a Procuradoria de Justiça da Comarca de Cansanção e o acusou de compra de votos. Alisson Pereira dos Santos Bacelar diz ter recebido da prefeitura um depósito de R$ 572,24 sem ter prestado serviços. Segundo ele, o prefeito tentou lhe convencer a receber a quantia e apoiá-lo nas eleições. Mesmo recusando a proposta, Alisson teve o valor depositado por dois meses. Para Cirilo, houve uma demora anormal do MP. 

"O eleitor me procurou e me deu cópia da denúncia. Vim ao fórum com ele, e esta não tinha sido feita pelo MP. Fiz pelo meu partido". O prefeito, o vice-prefeito, Paulo Passos (PRP), e o promotor de Justiça da cidade foram intimados pela juíza eleitoral de Monte Santo para prestarem esclarecimentos.

Publicação: Jornal da Metrópole;

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